O grande lance de This is Us

Até escrevi um texto
5 min readJan 12, 2021

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Importante: Tem spoiler pra quem não assistiu até o final da segunda temporada. Mas são leves, dá pra ler.

Para uma grande admiradora das conexões e dos detalhes, This is us é o paraíso. E eu adoraria dizer que é só isso que amo na série, mas depois de Jack e Rebecca, Randall e Beth, Kate e Toby, precisei assumir publicamente que sou extremamente romântica. Então, para os que curtem romances: This is us também será o paraíso para vocês.

Vamos começar escurecendo as coisas, estou escrevendo esse texto depois de assistir o Episódio 5, da Temporada 5, em janeiro de 2021. Ou seja, assisti tudo o que já foi ao ar e alguns complementos muito bons que ajudam no entendimento da trama, vou contar mais pra frente sobre o plus.

Quando comecei a assistir o “The Big Three” achei que estava prestes a ver a série mais clichê de todas, e até hoje, se me descuidar, ainda entro nessa ilusão. Mas a verdade é que não tem nada de clichê em This is Us. Geralmente o pecado dos clichês está no repetitivo, na falta de originalidade, e o que faz a série flertar com isso é o LUGAR COMUM, mas esse não é o erro e sim O GRANDE LANCE do produtor Dan Fogelman: falar da vida como ela é. Fogelman, aposta tudo no que é comum ao ser humano, o que torna impossível alguém não se identificar com alguma narrativa da série.

E se você já assistiu alguns episódios, percebeu que mesmo sendo drama, a história vem embalada em um otimismo sutil, longe da positividade irreal de alguns clichês.

Agora que já disse o que não é, posso contar sobre o que é! É sobre discursos que tiram o fôlego e diálogos impecáveis, sobre os conflitos que existem nas relações profundas entre pessoas muito complexas, sobre o que une nosso passado, presente e futuro, e sobre uma trilha sonora exímia.

A série explica todo o seu sentido no Episódio 5, da Temporada 1 — “The Game Plan”. Quando Kevin, depois de deixar suas sobrinhas confusas sobre a vida após a morte, explica para Tess e Annie o quadro que ele mesmo desenhou afim de representar a peça teatral em que irá atuar. Se você não estava ligado nesse EP, perdeu a melhor explicação sobre o que é THIS IS US.

Lembra do discurso de tirar o fôlego que eu disse? Então:

“Eu pintei isso porque senti que a peça era sobre vida. E a vida é cheia de cores, que cada um pode andar junto e juntamos nossas próprias cores à pintura. E mesmo a pintura não sendo muito grande, você tem que entender que segue para sempre em todas as direções. Então para o infinito sabe. Porque parece a vida, é meio louco pensar sobre isso, não é? Que há cem anos, algum cara que nunca conheci veio para este país com uma mala, ele tem um filho, que tem um filho, que tem a mim. Fiquei pensando no começo que “essa parte aqui em cima” é minha parte na pintura e aquela parte é do outro cara. Mas depois, comecei a pensar, e se todos estamos na pintura em todo lugar? E se estivermos na pintura antes de termos nascido? E se estivermos nela depois de morrermos? E essas cores que continuamos colocando, e se eles continuarem colocando uma em cima da outra? Até eventualmente, não sermos mais cores diferentes. Somos apenas uma coisa, uma pintura. E o meu pai não está mais com a gente, ele não está vivo, mas ele está com a gente. Ele está comigo todos os dias. Tudo se encaixa de alguma forma mesmo que ainda não entendam como. Pessoas morrerão em nossas vidas, pessoas que amamos, no futuro, talvez amanhã, talvez daqui a muitos anos. […] o fato de que uma pessoa morre, e não poder vê-la ou falar com ela, não quer dizer que não estão mais na pintura. Acho que talvez esse seja o objetivo de tudo. Não há morte. Não há você, ou eu, ou eles. Há apenas nós / Just us. E essa coisa descuidada (pintura), selvagem, colorida, mágica, que não tem começo, que não tem fim, está bem aqui. Somos nós / This is us.”

This is us é exatamente o que o nome da série diz, é sobre nós. Sobre como nos eternizamos na história de alguém mesmo nos afastando ou morrendo. O que deixamos de nós nessas pessoas acaba nos tornando infinitos, e aí já não existe só eu, ou só você, existe nós. Mesmo que a Kate, por exemplo, seja alguém singular, única, é impossível falar dela sem falar do Jack, mesmo depois de morrer, a cor dele da pintura se mistura com as outras e ele continua vivo na história.

Não sei se repararam, mas cada episódio ameaça focar na história de um personagem só, mas todos aparecem sempre. Porque seguindo essa lógica da pintura, já não se tem certeza de quem é a história que estão contando individualmente. Não temos certeza se é da Beth ou da Deja, ou de algum outro personagem que ainda vamos conhecer, porque as histórias estão conectadas, é a história de todos eles.

A série enfatiza o peso que nossas experiências passadas têm sobre as pessoas que nos tornamos, sobre as escolhas que fazemos e sobre aquilo que não necessariamente escolhemos ser, mas somos.

Sobre o futuro? No Episódio 18, da Temporada 2, Randall em um discurso perfeito no casamento da Kate, diz:

“Levei 37 anos para aceitar o fato de que não faz o menor sentido tentar controlar o futuro. Pois ninguém sabe aonde estaremos, nem mesmo daqui um ano. Mas o que podemos controlar são as pessoas que escolhemos. Escolher nossas pessoas é o mais perto que chegamos de controlar nosso destino.”

Fazemos parte de uma história bem maior que a nossa própria, e This is us, é sobre isso.

Ah, o plus, para fazer ainda mais sentido, está em assistir ao filme “A vida em si”, dirigido pelo mesmo produtor, Dan Fogelman. Está disponível na Amazon, assista e por favor me diga que isso não é uma grande loucura da minha cabeça!

Fora isso, prestar atenção nas letras das músicas que rolam durante os EPs faz tudo ter sentido, super recomendo a playlist do spotify: “This is us (Music From The Series)”.

Último detalhe: quem não prestar atenção em nada disso que eu disse, chora igualmente durante a série, se emociona da mesma forma e até tira umas lições. Deixei isso por ultimo pra não tornar meu texto inútil.

Nos lemos em breve, no próximo texto aleatório.

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Até escrevi um texto

Escrevo em voz alta. Desculpe desde já pela aleatoriedade dos assuntos! Por @eu.amandac